Uso de ibuprofeno e paracetamol é associado à resistência de bactérias aos antibióticos, diz estudo
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Pesquisa australiana mostra que analgésicos comuns, quando usados simultaneamente, amplificam mutações em bactérias
Pesquisadores da Universidade do Sul da Austrália (UniSA) descobriram que o uso combinado de ibuprofeno e paracetamol potencializa a resistência de bactérias aos antibióticos. O estudo foi divulgado na terça-feira (26/8) e demonstrou que esses analgésicos de uso comum, quando administrados simultaneamente, amplificam mutações em bactérias como a Escherichia coli, tornando-as resistentes à ciprofloxacina e outros antibióticos.
A investigação conduzida nos laboratórios da UniSA revelou que esses medicamentos contribuem para o aumento da resistência antimicrobiana. Os cientistas observaram que o ibuprofeno e o paracetamol não apenas elevam a resistência quando utilizados individualmente, mas intensificam esse efeito quando administrados juntos.
A pesquisa foi desenvolvida em resposta à crescente preocupação com a resistência antimicrobiana, problema agravado pelo uso excessivo e inadequado de antibióticos. A equipe examinou especificamente a interação entre medicamentos não antibióticos, o antibiótico ciprofloxacina e a bactéria E. coli, comumente encontrada em infecções intestinais e urinárias.
Este foi o primeiro estudo a demonstrar essa relação específica entre analgésicos comuns e resistência antimicrobiana. O trabalho impacta diretamente o entendimento sobre os riscos da polifarmácia, o uso simultâneo de múltiplos medicamentos.
Durante os experimentos, os pesquisadores expuseram culturas de E. coli a diferentes combinações de fármacos para avaliar o desenvolvimento de resistência. Os testes permitiram observar as interações medicamentosas e seus efeitos sobre a resistência bacteriana.
A equipe descobriu que as bactérias expostas simultaneamente à ciprofloxacina, ibuprofeno e paracetamol desenvolveram mais mutações genéticas do que aquelas expostas apenas ao antibiótico. Essas mutações permitiram que as bactérias crescessem mais rapidamente e se tornassem altamente resistentes. As bactérias não apenas desenvolveram resistência à ciprofloxacina, mas também apresentaram maior resistência a antibióticos de outras classes.
A partir desses resultados, espera-se uma reavaliação dos protocolos de administração de medicamentos, especialmente em ambientes de cuidados para idosos, onde a polifarmácia é comum. "Os antibóticos são vitais há muito tempo no tratamento de doenças infecciosas, mas seu uso excessivo e incorreto generalizado levou a um aumento global de bactérias resistentes. Isso é especialmente prevalente em instalações residenciais de cuidados para idosos, onde eles têm maior probabilidade de receber prescrições de vários medicamentos, tornando-se um ambiente ideal para a proliferação de bactérias intestinais resistentes a antibóticos", pontua a professora associada Rietie Venter, pesquisadora principal do estudo.
Vale destacar que segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS) a resistência antimicrobiana é uma ameaça global à saúde pública. Ainda, conforme a organização, somente em 2019, 1,72 milhões tiveram como causa da morte a resistência bacteriana.
"A resistência aos antibióticos não diz respeito mais apenas aos antibióticos; Este estudo é um lembrete claro de que precisamos considerar cuidadosamente os riscos do uso de múltiplos medicamentos. Isso não significa que devemos parar de usá-los, mas precisamos estar mais atentos à forma como eles interagem com os antibióticos — e isso inclui olhar além das combinações de dois medicamentos", ressalta a professora.
O estudo avaliou nove medicamentos comumente usados em cuidados residenciais para idosos: ibuprofeno (um analgésico anti-inflamatório), diclofenaco (um anti-inflamatório para tratar artrite), acetaminofeno (paracetamol para dor e febre), furosemida (para pressão alta), metformina (para altos níveis de açúcar associados ao diabetes), atorvastatina (para ajudar a reduzir o colesterol e as gorduras no sangue), tramadol (um analgésico mais forte após a cirurgia), temazepam (usado para tratar problemas de sono) e pseudoefedrina (um descongestionante).
Segundo os pesquisadores, mais estudos sobre interações medicamentosas estão sendo solicitados para compreender melhor como os medicamentos comuns podem afetar a eficácia dos antibióticos.
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